domingo, 22 de abril de 2012

Basta de escrita; a escrita que basta


Ele deixou a tinta cair do papel
quando mais precisava
Tinta rubra escorre o branco
e deixa o vazio surgir na folha
onde sangram palavras que ele não
me disse que ele não diria
Página pálida ressecada e sem vida;
a última gota era a que faltava para
a hemorragia do poema
Ele não me avisou que iria abandonar
a intimidade que deixou
aqui uma cicatriz
Se ele se foi, foi porque
o desejo o deixou primeiro
A carta que ele não mandou não
dizia uma morte, mas uma outra
vida que o esperava com os
versos que ele parou de dizer
pra dizerem nada. Nenhuma gota
e hemorragia

Mas eu fiquei aqui com
o papel e a tinta nas mãos
que já não se cansam da dança
que sacode a folha fazendo
barulho para encobrir seu silêncio
Meu branco se move com luz
formando outras cores além
do rubro que ele estancou
Sua ausência me traz vontade
de escrever a resposta da carta
que ele não me mandou;
seu silêncio aumenta meu desejo;
sua fuga é covardia? sua falta é
impotência? É presença.
É coragem sair ou ficar?
Rasgar a cicatriz,
ou fechar?

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