quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Poeta não bate cartão

Poeta não bate cartão, pois um verso se faz de viver. Poesia não é opção, é marca de nascença. Nasce na pele e incomoda pro resto da vida. Fingir que o vento da rua não me descabela não adianta. Fingir que a chuva da cidade não me alaga, muito menos. O holocausto aconteceu pela palavra de um homem. Repito: pela palavra. Isso incomoda. O jeito é naufragar no início da tempestade do mundo: a linguagem. Poesia é prosa de esquina. Poeta que foge da rua finge que não vê. Sentar-se à janela e sonhar acordado: não, isso não é ser poeta. O poeta olha a rua que está por trás da janela. Seu sonho tem pés no chão. Sonhar é devaneio do dia -sem correntes-. Sonhar é descobrir os desejos -escondidos-. Dormir e não sonhar: esgotar-se de querer. Poetar é devaneio do dia -sem correntes-.  Poetar é descobrir os desejos -escondidos-. Seduzir a palavra, pra que ela se confesse. Viver e não poetar: esgotar-se de sonhar; bater cartão no início e no fim do dia; limite de visão: o prédio. Expediente do poeta: infinito e nunca. Função: tudo ou nada. Poesia não é profissão. Quem não delira se deixa ser escrito. Poetar é viver sem cordas. 

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