sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Esticando o tempo

Tudo aqui se confunde. Espiralizo, mas o tempo não volta. Gira mais rápido pro centro e se perde. Uma vez maduro, cai e não tem jeito. O desejo de chegar às folhas mais altas da árvore, sem saber por onde subir. Nem por isso desisti de esticar meu pescoço de girafa. Sabia que um dia me serviria. E nem por isso deixei de tentar me desacomodar do chão, mesmo que patinando na lama. Engatinhando na grama. Preciso me erguer. Agora há muitas coisas à minha volta, e quero tudo de uma vez. É preciso ser polvo, também. Meu pior inimigo ruge: o tempo. Animal feroz. Dele dependo e nele habito. Nele transito sem rumo certo. Sigo viagem sem passagem de volta. Entro no safári e nele me perco. Forasteiro, desembarco hoje por águas que desconheço, pra aldeias que nunca ouvi. O silêncio se espanta, e de repente o ímpeto de falar. O melhor e mais significativo é calar-se. A urgência, porém, é dizer. Chafurdados de informações. Ouço vozes que não dizem nada. Onde essa canoa vai parar? Areia movediça de alienação. Progresso sem civilização. O avanço me trouxe à selva. Salve-se quem puder. Grite, ainda que submerso. Estou quase chegando ao galho mais alto. Mas ele ainda está tão distante... Quase não é chegar. O risco é necessário. Não há atalhos que me desviem daqui. Não há trilhas neste deserto sem fim. O que mais incomoda não é estar no quase, é não ter a certeza da chegada.

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